Memorial do IME-USP
“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo”
Arquimedes
Assim é a obra de nossos professores, funcionários, alunos e ex-alunos. Cada nome homenageado neste site representa alguém que faz muita falta e é lembrado com carinho por colegas, familiares e entes queridos. O imensurável legado daqueles que marcaram a história do Instituto continua a nos inspirar todos os dias.
Sergio Muniz Oliva Filho
Memorial em Homenagem ao Professor Sergio Muniz Oliva Filho
Com imensa tristeza nos despedimos do Professor Sergio Muniz Oliva, que nos deixou no dia 12 de março de 2025. Sua partida representa uma perda irreparável para a Universidade de São Paulo e para todos que tiveram o privilégio de caminhar ao seu lado, como colegas, alunos, colaboradores e amigos.
Sergio formou-se bacharel em Matemática Aplicada pela USP em 1986, concluiu o mestrado em 1989, e, sempre movido por uma inquieta paixão pelo saber, obteve seu doutorado em Matemática pelo Georgia Institute of Technology em 1993. Desde então, sua trajetória acadêmica foi marcada pela excelência, pela dedicação ao ensino e pela generosidade intelectual que definia sua presença em todos os espaços que ocupava.
Professor livre-docente do Instituto de Matemática e Estatística da USP, Sergio tornou-se referência na área de Matemática Aplicada, atuando principalmente em equações diferenciais, com especial interesse em equações de reação e difusão, equações parciais funcionais, atratores, condições de fronteira não lineares e efeitos de retardamento. Seus estudos, sempre guiados por um olhar atento às aplicações do conhecimento, contribuíram de forma significativa para o avanço da biomatemática e da modelagem de processos epidêmicos — áreas às quais dedicava atenção especial por acreditá-las fundamentais para compreender e melhorar o mundo ao nosso redor.
Mas a contribuição de Sergio à Universidade foi muito além da pesquisa. Desde 2022, ocupava a Diretoria do IME-USP, onde conduziu a gestão com sabedoria, sensibilidade e respeito à diversidade de ideias. Seu espírito conciliador, aliado à sua capacidade de escuta e à clareza de pensamento, fez dele uma liderança respeitada e querida.
Sua dedicação à vida universitária estendia-se também à atuação institucional. Entre muitas outras atividades, participou da Comissão de Legislação e Recursos (CLR), e integrou a equipe da AUCANI (Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional), onde, como Vice-Presidente e Diretor Adjunto de Relações Acadêmicas Internacionais, contribuiu com entusiasmo para fortalecer os vínculos da USP com o mundo, sempre acreditando no poder transformador da colaboração entre culturas, saberes e pessoas.
Sergio era, acima de tudo, alguém que fazia diferença — não só pelo brilho intelectual, mas pela forma humana e ética com que tratava todos ao seu redor. Combinava a profundidade do pesquisador com a leveza do amigo de conversas francas, a firmeza de quem conhece as instituições e a delicadeza de quem as habita com afeto.
Neste momento de despedida, rendemos homenagem não apenas ao professor e pesquisador exemplar, mas ao ser humano generoso, íntegro e inspirador que foi Sergio Muniz Oliva. Seu legado permanecerá vivo em cada vida que tocou, em cada ideia que cultivou, e em cada gesto de compromisso com a universidade pública, a ciência e o bem comum.
Obrigado por tudo, Sergio. Sentiremos sua falta, mas sua presença seguirá viva entre nós.
Texto elaborado pelo Departamento de Matemática aplicada.
Queridos familiares e amigos,
Um dos autores favoritos do meu pai, Haruki Murakami, diz que :
“A morte não é o oposto da vida, mas uma de suas partes”.
Meu pai leu um livro do Murakami nos nossos incontáveis dias de visita ao hospital — e uso a palavra “visita” intencionalmente, porque meu pai nunca permitiu que a doença definisse quem ele era, enxergava tudo como um momento transitório, apenas uma passada, uma visita no hospital. Desde o diagnóstico, encarou cada dia com aquela presença, leveza e coragem que eram a essência dele. Não fugiu, não se escondeu: viveu cada instante como um ato de amor pela própria vida.
Estamos aqui, cercados por tantos que amaram meu pai, e hoje não quero falar somente de dor e despedida, mas de gratidão. Gratidão por ele ter sido um filho atencioso, um pai presente e protetor, um esposo companheiro que sabia ouvir com o coração inteiro, um irmão que irradiava alegria, um professor, pesquisador e matemático que inovou com inteligência e humildade. Cada um de nós carrega um fragmento do seu legado. A vida é como um rio: tudo muda, nada permanece, mas a água que flui hoje é a mesma que nutriu as margens ontem. A impermanência não apaga o que foi vivido; transforma-o em raiz para o que ainda há de florescer.
Meu pai sabia disso. Por isso, mesmo na dor, escolheu semear gentileza, leveza, escuta atenta e coragem. E eu, que tenho o privilégio de ser sua filha e de carregar 50% do DNA dele, faço hoje uma prece: que eu possa honrá-lo sendo tão gentil quanto ele, tão amorosa, tão caridosa com a vida, tão corajosa diante das tempestades. Que eu — que nós — possamos materializar em nossos gestos as sementes que ele plantou.
Agora como diz um dos meus autores favoritos, Guimarães Rosa:
“As pessoas não morrem, ficam encantadas... a gente morre é para provar que viveu”.Meu pai não se foi: está encantado em cada memória que nos deixou, em cada problema matemático que desafiou, em cada abraço que nos uniu.
Não vejo sua partida como uma derrota. Vejo como uma vitória — a mesma que fez o velório e esta igreja se encherem de amor. Ele lutou, sim, mas lutou vivendo, não sobrevivendo. Amou ao máximo, riu ao máximo, e nos mostrou que a verdadeira coragem está em abraçar a impermanência sem medo. Por isso, convido todos a celebrarmos não o adeus, mas o encantamento que ele deixou. Que seu feitiço — feito de risos, escuta e ensinamentos — siga permeando nossas vidas.
A dor que sentimos hoje é proporcional ao amor que ele nos deu. E assim como o rio nunca para de fluir, nosso amor por ele seguirá encontrando novas formas de existir. Milan Kundera, escreveu:
“O que nos apavora na morte não é a perda do futuro, e sim a perda do passado”.Mas hoje, olhando para cada rosto aqui, lembro que o passado do meu pai não está perdido. Ele está guardado em nós — não como uma memória solitária, mas como uma multiplicidade de histórias, gestos e ensinamentos que vamos dividir uns com os outros. Cada abraço, cada conversa, cada “lembra quando ele...” é um modo de mantê-lo vivo, de transformar o medo da ausência em celebração do que foi toda sua potência.
Ele viveu plenamente, sua história não termina aqui, acredito que começamos uma nova história agora. Podemos seguir tranquilos, porque ele não será sustentado apenas na minha memória ou na sua, mas na rede que tecemos juntos, sentindo no coração e contando e recontando quem ele foi, e como ele permanece dentro de nós: encantado.
Sigamos encantados. Sigamos sendo um pouco dele neste mundo, multiplicando o amor e beleza que ele nos deixou.
Com eterno amor e gratidão,
Isabel, Rebeca e Mariana.
Reconhecimento na Mídia:
O prof. Sergio Muniz Oliva está fazendo muita falta para o IME , ele era uma pessoa maravilhosa, gentil e amigo. Vamos sentir muita falta dele, vai fazer muita falta para nós que somos amigos dele. Ele sempre foi uma pessoa incrível e nosso amigo de sempre. Mas a vida nos tirou a presença dele e vamos seguindo e nos conformando com a falta que ele faz.
Rosana Aparecida Benedetti
IME/USP
"Education does not change the world. Education changes people. People change the world". I leave here the words of the great Paulo Freire to say that people like Professor Sergio, who dedicate their lives to promoting a better environment for research and teaching, as he has done as Dean in recent years, are also the people who sow the seeds of a better place to work. To all those who have worked with him at the IME since his undergraduate days, or had him as a teacher, I offer my sincere condolences.
Edina
IME-USP
É difícil escrever sobre o Sérgio: a saudade é grande, como também ainda são o susto e a surpresa de seu falecimento. Sim, ele era um colega importante, que entendia dos riscados tanto dos nossos cursos, quanto do funcionamento do departamento, cuja presença nos apoiava a todos, e que estava sempre disposto a ajudar e a se meter onde era chamado. Sim, ele era um diretor hábil, que dirigiu o instituto com competência, dedicação, consideração e carinho. Mas o que é mais difícil dizer é que ele era o Serginho, meu amigo, que me ajudou muitas vezes, que se interessou por meus problemas, que brigou comigo, que me irritou, que me perdoou, que não vai responder à última mensagem que lhe enviei, e que agora deixou um buraco enorme nas nossas vidas. Como atual chefe do Departamento de Matemática Aplicada, o departamento ao qual ele pertencia, talvez devesse escrever palavras mais sóbrias, e talvez o Sérgio, ele próprio, preferisse adotar um tom mais profissional. Mas meu amigo Serginho vai ter que me perdoar mais essa vez.
André Salles de Carvalho
MAP-IME-USP
Não é uma missão muito fácil falar sobre uma pessoa tão querida, mas em nome de toda comunidade escoteira deixo aqui algumas poucas palavras. Com certeza muitos aqui podem falar melhor do que eu sobre grandes virtudes no mundo acadêmico, profissional e pessoal. Na vida escoteira não era nem um pouco diferente, Sérgio sempre foi um grande colaborador, ouvinte, parceiro, conselheiro e acima de tudo um grande amigo. Como citou um dos nossos irmãos: “ Teremos muita saudades dessa alma matemática mais das humanas que conhecemos….. Um otimista fora das probabilidades” Lembro bem quando ele se juntou ao nosso Grupo ainda como um pai voluntário levando suas filhas novas para as primeiras atividades, aos poucos foi se envolvendo e rapidamente já era um protagonista com sua forma colaborativa de sempre. Eu na época era um jovem de 20 e poucos anos, com bastante vivência como jovem no escotismo mas ainda engatinhando como um voluntário e ele com menos de 40 se tornou um grande parceiro de aventuras, conselheiro e era o contraponto ideal para dar credibilidade ainda mais ao trabalho que nós fazíamos com tanto carinho como voluntário para os filhos dos outros…..impressionante como o Sérgio parecia respirar os valores do escotismo desde sempre na vida., acho que foi apenas um capricho do destino eles terem se cruzado tardiamente O Sérgio impactou uma geração enorme de adolescentes que por lá passaram e muitas vezes encontraram nele um porto seguro para desabafar, pedir conselhos de vida, orientações, ouvir algumas poucas palavras mas que faziam toda a diferença…ele sempre como uma ótima bússola nunca errou o norte ao orientá-los , mas sempre foi além … se preocupava de verdade em ver o resultado e acompanhava essas “jornadas” de ponta a ponta , comigo mesmo quantas vezes não teve o cuidado de retomar temas que havíamos conversado há tanto tempo mas como quase em um sexto sentido percebia que algo ainda orbitava a minha cabeça em algum momento e com cuidado e carinho, aparecia para se certificar de que tudo estava bem Sergio - sua partida para o grande acampamento não é um ponto final em nossas vidas, vamos continuar com todo carinho lembrando e principalmente nos inspirando nos seus ensinamentos para deixar o Mundo um pouco melhor do que encontramos - a sua parte com certeza você fez , e muito bem! Sempre Alerta!
André Spina
1 Grupo Escoteiro São Paulo
Para mim é muito difícil encontrar as palavras para descrever de forma realmente honesta o quão importante foi a convivência com o Professor Sérgio. Os amigos o chamavam de Serginho, eu não, nunca consegui chamá-lo assim. Não é segredo que tínhamos muitas diferenças políticas, mas com o tempo eu aprendi não só a respeitá-lo, mas também passei a admirá-lo. Poucos no IME-USP, em toda a sua história, tiveram um comportamento tão autenticamente democrático como o Professor Sérgio Oliva. O diálogo com ele sempre era possível, nem sempre era obtido um ponto comum, mas sempre havia uma conversa, e jamais ele era autoritário. Eu então na qualidade de representante discente me sentia verdadeiramente respeitado. Aprendi com ele o real significado da máxima de São Francisco: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.” No dia de minha defesa de doutorado, quando eu cheguei ao IME com minha família, minha mãe, minha mulher e meu filho, o destino me deu a coincidência de que ao entrarmos no bloco-A estivesse ali também o Professor Sérgio, foi a primeira pessoa que encontramos, e que orgulho me deu a recepção que ele ofereceu a mim e também a minha família, e embora meu filho, João Miguel, tenha ficado com vergonha, mal acabara de completar os seus três anos, o Professor Sérgio com sua eterna jovialidade brincou com ele e nos tratou como amigos. Essa foi a última vez que nos vimos. Ainda me custa acreditar que ele não está mais entre nós. Sinto e sentirei muito a sua falta.
Thiago Augusto S. Dourado
IME-USP
Sergio foi uma pessoa presente e importante por todo meu tempo no IME até agora. Sempre vi Sergio colocando o interesse coletivo e da instituição acima de objetivos pessoais. Ele foi o maior exemplo para mim de uma pessoa que entendia a USP como patrimônio da sociedade brasileira e sabia que sua missão era transcendente. Sempre admirei a forma como conseguia lidar com situações difíceis com bom humor e de forma positiva, soltando uma risada que era uma verdadeira assinatura pessoal. Durante os ultimos meses trabalhamos de perto tentando desatar nós num projeto para trazer financiamento privado à pesquisa dentro da USP. Uma corrida de obstáculos múltiplos que ele conseguiu ultrapassar com maestria. Sem ele este projeto jamais sairia. Sergio era uma pessoa integradora, capaz de construir nos espaços possíveis, sem deixar de sonhar e sem deixar de ser realista. Sergio já está fazendo falta.
Renato Vicente
IME/USP
André Salles de Carvalho
Claudia Monteiro Peixoto
Cristiane da Silva Costa