Memorial do IME-USP

“Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo”
Arquimedes

Assim é a obra de nossos professores, funcionários, alunos e ex-alunos. Cada nome homenageado neste site representa alguém que faz muita falta e é lembrado com carinho por colegas, familiares e entes queridos. O imensurável legado daqueles que marcaram a história do Instituto continua a nos inspirar todos os dias.

Jorge Adrián Beloqui

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Jorge Beloqui e a construção da vida solidária

Profa. Dra. Elizabete Franco Cruz – EACH/USP e Profa. Dra. Deborah Raphael – IMEUSP

Perdemos o nosso querido amigo Jorge Adrián Beloqui, professor do IME- USP e ativista incansável nos movimentos em defesa de pessoas vivendo com HIV/Aids. Faleceu subitamente em Buenos Aires, no dia 9 de março de 2023, possivelmente de parada cardiorrespiratória decorrente de pneumonia.

Jorge nasceu na Argentina em 1949 e veio para o Brasil em 1975. Cursou Matemática na Universidade de Buenos Aires, fez doutorado no IMPA, Instituto de Matemática e Pesquisa Aplicada no Rio de Janeiro, e ingressou no IME em 1981, onde sempre foi muito querido por colegas e funcionários e fez amizades profundas. Somos testemunhas da sua lucidez e da sua valentia e tivemos o privilégio de conviver com seu bom humor e sua risada generosa e espalhafatosa.

Gostava de ser professor e se dedicava com prazer às aulas da graduação, que ministrava como professor sênior, sobretudo para estudantes dos anos iniciais da Escola Politécnica. Também gostava de ser matemático e, na sua trajetória como militante e ativista, estão sempre presentes o professor e o matemático.

Homossexual assumido iniciou sua trajetória de militância no movimento gay e nas lutas contra o autoritarismo na Argentina. Com o advento da AIDS, foi um dos precursores da luta contra a pandemia. Participou da criação e fortalecimento de várias ONGs e redes com destaque para o GIV- Grupo de Incentivo à Vida e para a ABIA - Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, entidades das quais fazia parte como diretor e conselheiro, respectivamente.

Jorge também participou da construção do Grupo pela Vidda São Paulo, Fórum Estadual de ONG AIDS de São Paulo, Movimento Paulista de Luta contra AIDS, RNP+ - Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV AIDS, GTPI - Grupo de Trabalho Propriedade Intelectual, NEPAIDS/USP - Núcleo de Estudos e Prevenção à AIDS da Universidade de São Paulo.

Nos anos 90, foi representante do movimento de AIDS no CONEP tendo grande preocupação com a ética em pesquisa, especialmente as pesquisas que ofertam medicamentos. Era um defensor intransigente do SUS - Sistema Único de Saúde, acompanhando o acesso a medicamentos.

É gigante e indescritível a contribuição de Jorge para a resposta brasileira em relação ao HIV e AIDS. Estudou patentes, vacinas e medicamentos e fez com brilhantismo um trabalho voluntário no movimento social, levando informação qualificada e de ponta que permitia às pessoas vivendo com HIV lutarem pelos seus direitos. No GIV, foi responsável por pela produção do Boletim de Vacinas e contribuiu com inúmeras publicações dentre elas material voltado para prevenção de HIV AIDS junto a jovens gays e comunicação sobre prevenção combinada.

Também teve destaque no cenário internacional contribuindo para o fortalecimento do movimento social de luta contra a AIDS na América Latina, participando de Conferências Mundiais de AIDS e estimulando a cooperação do Brasil com outros países.

Acima de tudo, Jorge era um ser humano especial, tão duro e firme na intransigente defesa dos direitos das pessoas com HIV /AIDS e LGBTQI + quanto doce e carinhoso no cuidado com seus amigos, amigas e amigues. Tão direto nas suas análises quanto acolhedor com quem dele se aproximava.

Por isso tudo estamos tão indescritivelmente tristes com a perda deste querido amigo, um ser humano ímpar que dedicou à vida à construção de uma sociedade inclusiva, justa, com direitos e equidade.

Em um texto, Jorge disse que depois que descobriu ser portador do HIV, passou do grupo dos imortais para o grupo dos mortais. Agora, diante de sua morte, por tudo o que fez da sua vida como força de produção de uma vida coletiva mais solidária - em uma sociedade fortemente marcada pelo estigma e discriminação - dizemos que Jorge passou do grupo dos mortais para o grupo dos imortais, cujo legado é tão importante que sobrevive à morte.

Jorge Beloqui, presente!

 

 

Repercussão do Falecimento do Professor Jorge Beloqui

Confira também entrevista concedida ao Jornal da USP em 2020:






Minha eterna admiração a um lutador! Beloqui se vai, mas o que ele plentou em cada um nós que o conheceu e reconheceu sua luta e sua esperança fica! Beloqui presente sempre!

Walcy Santos
UFRJ

Jorge foi colega meu na graduação na Universidade de Buenos Aires. Eramos amigos e compartilhamos alegrias e tristezas desde então. Jorge estava no Rio quando saímos de Argentina em 1976 e nos acolheu com muito carinho. Admiro a sua trajetória e vou sentir muita falta de sua presença.

Ana Friedlander
Imecc- Unicamp (aposentada)

Um pessoa muito legal, um ótimo colega! Vai fazer muita falta aqui entre nós! Fiquei muito triste em pensar que ele não virá mais aqui ao departamento de Matemática!

Leila Maria Vasconcellos Figueiredo
IME-USP

Jorge era uma pessoa que causava impacto, quando o conheci, falei dele por dias. Uma personalidade vibrante, um grande senso de humor e notável inteligência. Foram poucos nossos encontros, mas lembro de todos. Fará muita falta!

Cila Drugovich
WRC do Brasil

Lá nos anos 2000 atendi o Prof. Jorge várias vezes quando passei pela secretaria do Departamento de Matemática. Recentemente, na época do isolamento social, tive a honra de reencontrá-lo para apoiá-lo com o ensino remoto. Em todas essas ocasiões ele sempre foi muito simpático, generoso e, apesar dos percalços da vida, uma pessoa muito alegre que nos contagiava e que dava prazer de atender. Descanse em paz, professor!

Marcelo Modesto Costa
IME-USP

Uma coisa que reparei ao longo dos anos: quando chegavam mensagens sobre a morte de alguém pelo e-mail do IME, seja de um dos membros da comunidade, ou algum parente, o Jorge quase sempre dizia algo pra confortar. Apesar do pouco contato que tivemos, ficou em mim a impressão de alguém cuidadoso, que devia conhecer bem a dor pela perda de pessoas queridas.

Salvador Zanata
IME

Eu dividi muitos momentos com o Jorge, todos muito agradáveis. Lembro da sua solidariedade quando tive uma diverticulite e fui operado ficando hospitalizado por 20 dias. O Jorge ficou muito tempo a meu lado. Isso foi semanas após ele ter sido operado. Eu também passei algum tempo com ele em Buenos Aires, passeamos juntos, ele me mostrou lugares interessantes por lá. Nos encontramos aqui, em porta de cinema, shows ce música, aparentemente tínhamos gostos parecidos de cinema e música. Lembro de almoços juntos no saudoso Clube dos professores. Enfim vai me fazer muita falta. Sua lucides, política também era admirável. Tivemos várias conversas sobre política. Enfim dói muito saber que o Jorge não vai elucidar mais minhas dúvidas.

Eduardo do Nascimento Marcos
Universidade de São Paulo

Mais um grande amigo que se vai, mas ficam boas lembranças, sobretudo, das nossas gargalhadas que estremeciam os corredores do IME. ´Rosarinha`, essa era a forma carinhosa que Jorge costumava me chamar. Foi um privilegio conhecer uma pessoa tão maravilhosa !!

Rosária
IME-USP

Belo texto sobre uma bela pessoa. De fato, Jorge Beloqui era um cara simpático e acolhedor a quem dele se aproximava. Um cara com um nivel de generosidade bem acima do padrão. Vai fazer falta por aqui.

Fábio Machado
IME-USP

Foi um presente ter podido partilhar um pouco da força e grandeza do professor Beloqui. Seu exemplo seguirá e muitas gerações se beneficiarão de sua luta. Sentida por sua partida e grata pelo nosso encontro nesse mundo grande!

Priscila Nogueira
Universidade de São Paulo

Estamos muito tristes pela nosso segurado que tanto nos prestigiou e que tinha muita confiança em nossos serviços. Fica aqui nosso imenso sentimento por sua perda.

Simone Bley
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Minha singela homenagem ao grandíssimo professor Beloqui, que tive a honra de assistir no curso de Cálculo 3 para a Poli no ano de 2004. Que sua alma descanse em paz!

Marcelo Wuo Lopes
Escola Politécnica




Curadoria:
Deborah Martins Raphael